sábado, 27 de novembro de 2010

Vulnerabilidade... e Forca

Acredito que a vida, essa vida terraquea, seja dialetica - que e' a contraposicao ou ate' mesmo a contradicao de ideias.
Nao e' simples perceber isso, e' necessario muita atencao, pois a percepcao e' bem sutil.
Explico-me.

Nao me lembrava mais a ultima vez em que chorei. Digo, em que chorei tomada por uma dor. Por esse angulo, hoje foi um dia bem atipico nessa fase em que estou.
Normalmente, em toda minha vida acredito eu, sempre que senti qualquer dor, me colocava mesmo que inconscientemente em posicao de vitima. Pode ser um pouco, ou pode ser muito - depende da situacao e de N fatores. Mas o ponto principal e': o papel de vitima, e' um dos modelos claros para mim no qual a pessoa se identifica total e completamente com a situacao de vida em que se encontra - mesmo que momentanea - e consequentemente com o sentimento que a mesma acarreta.
Nesse modelo, existe um veu que cobre os olhos da pessoa e a impede de enxergar com clareza o que realmente esta' acontecendo. E' como se houvesse uma lente de aumento de 200% e ainda por cima distorcida.
Outro ponto obstante, e' a questao do foco.
Como voce se julga vitima de tal situacao ou pessoa, seu ponto referencial para matutar sobre o assunto nao e' voce mesmo, mas sim o que 'atingiu' voce. Entao uma agunia profunda te invade e comeca a se indagar coisas como "porque comigo?" ou "eu nao mereco isso" ou qualquer coisa do genero. Se sente rejeitado, enganado ou roubado de alguma forma.
Sem comentar sobre o sentimento profundo que surge de querer controlar a situacao. Ou se martirizar 'dos porques' nao fez isso ou aquilo em tal momento.

Tudo isso e' distorcao. Tudo isso e' ilusao. (Percebam que e' esse o tipo de ilusao a qual a religiao budista por exemplo, se refere quando diz que a vida e' ilusoria).
Comecamos a estar mais perto da verdade, quando comeca a emergir em nossa consciencia sentimentos de dualidade acredito eu.
Por exemplo.
Quando voce so' se sente forte com quando nao esta' vulneravel, essa forca e' ilusoria. Quando voce se sente fraco quando esta' vulneravel, isso acaba acarretando muito medo, entao voce se fecha para o mundo, para a vida e passa a se basear unicamente pelas experiencias passadas, criando uma barreira que impossibilita o fluir da vida.
Assim, a "abordagem correta" e' se sentir vulneravel e forte.
Vejam bem; a pessoa realmente valente esta' absolutamente aberta - esse e' o criterio da coragem. Somente o covarde esta' fechado - nao existe valentia a quem escolhe o seguro e conhecido sempre; e a pessoa forte e' tao forte como uma rocha e tão vulnerável como uma rosa. É um paradoxo.
Entao, quando voce sente uma dor e tem valentia suficiente para ainda assim abrir seu peito - simplesmente porque sabe que nao pode controlar a vida e por exclusao so' lhe resta confiar tao profundamente e plenamente quanto puder na mesma, chega o momento que comeca a perceber e sentir que essa confianca e' o bem mais precioso que pode ter em tal situacao e e' justamente atraves disso que e' capaz de criar sua forca interior. E consequentemente, seu crescimento, seu amadurecimento.
Então, você podera' permanecer vulneravel; a cada dia sua força crescerá e você ficará corajoso o bastante para se tornar cada vez mais vulnerável.
Por um lado, voce sempre sente um aspecto e por outro, o aspecto exatamente oposto. E quando você tem ambos os aspectos juntos, lembre-se sempre de que algo verdadeiro esta' muito proximo.

E acrescento mais um detalhe: para chegar ao ponto onde voce escolhe abrir seu peito independentemente da dor que esta' sentindo, e' muito significativo que consiga se distanciar um pouco desse sentimento para que possa olha-lo de frente; isso quer dizer que voce nao deve, nao pode, se identificar com ele... pois e' justamente essa identificacao que traz o papel de vitima.

Pela primeira vez provavelmente, encarei - nao apenas pensando, mas principalmente sentindo - a dor como algo positivo.
Tenho deixado cada vez mais de querer controlar a vida; ando preferindo que ela se mostre a livre vontade.

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