quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Um manifesto de uma só humanidade

O novo ser humano contém toda a minha filosofia sobre a vida e sobre como ela deveria ser — vivida em sua totalidade, intensamente, integralmente, de modo que não nos arrastemos simplesmente do berço à sepultura, mas possamos fazer de cada momento uma grande alegria — uma canção, uma dança, uma celebração.

O ser humano obsoleto que existiu até agora está no seu leito de morte. Ele já sofreu muito; precisa de toda a nossa compaixão. Ele foi condicionado a viver infeliz, sofrendo, torturando a si mesmo.

Fizeram-lhe uma promessa: notas promissórias para obter grandes recompensas depois da morte — quanto mais ele sofrer, mais se torturar, mais masoquista for, mais destruir a própria dignidade, mais será recompensado.

Esse era um conceito muito conveniente para todos os interesses escusos, pois o homem que está pronto para sofrer pode ser facilmente escravizado. O homem que está pronto para sacrificar o dia de hoje em favor de um amanhã desconhecido já declarou sua inclinação para ser escravizado. O futuro se torna seu cativeiro.

E durante milhares de anos, o ser humano viveu só de esperança, imaginando, tecendo sonhos, criando utopias, mas não a realidade. E não existe outra vida que não seja a vida desta realidade, a vida que existe neste momento.

O novo homem é uma rebelião, uma revolta, uma revolução contra todos os condicionamentos que podem escravizá-lo, oprimi-lo, explorá-lo, dar a ele apenas esperança num céu fictício, amedrontá-lo, chantageá-lo com outro fenômeno fictício: o inferno.

Todos os antigos modos de vida estavam estranhamente de acordo num ponto: que o homem é um animal sacrificado no altar de um Deus fictício. Houve ocasiões em que o homem foi de fato sacrificado, estripado diante de estátuas de pedra.

Embora ninguém ouse fazer tal coisa nos dias de hoje, psicologicamente a situação não mudou. O homem ainda é sacrificado em nome do comunismo ou em nome do capitalismo ou em nome de urna raça ariana, em nome do islamismo, em nome do cristianismo, em nome do hinduísmo.

Em vez de deuses de pedra, agora existem apenas palavras falsas, sem sentido. Mas o homem aceitou viver assim pela simples razão de que toda criança nasce em meio a uma multidão que já está condicionada.

Os professores estão condicionados, os pais estão condicionados, os vizinhos estão condicionados; e as crianças pequenas estão desamparadas — elas não conseguem imaginar uma alternativa que não seja fazer parte da multidão.

O ser humano antigo era uma multidão, um raio da roda; ele não tinha individualidade. Os representantes de interesses particulares tomaram todo cuidado para destruir o autorrespeito, a dignidade, a alegria e a gratidão que sentimos por sermos seres humanos — a mais elevada criação num longo caminho de evolução... a glória suprema.

Essas ideias eram perigosas. Se um homem tem algum respeito por si, alguma dignidade como ser humano, ele não pode ser reduzi-do a ser um escravo; você não pode destruir a alma dele e torná-lo um robô.

Até hoje, o ser humano só fingiu viver — a vida dele foi só hipotética.

O novo ser humano é uma revolta contra o passado. Ele é a declaração de que vamos criar um novo modo de vida, novos valores de vida; de que estamos destinados a cumprir novas metas — estrelas distantes são o nosso alvo.






E não vamos deixar que ninguém nos sacrifique em prol de um nome bonito. Vamos viver nossa vida, não de acordo com ideais, mas de acordo com os nossos próprios anseios, com as nossas próprias intuições apaixonadas.

E vamos viver um instante de cada vez; não vamos mais nos deixar iludir pelo amanhã e pelas promessas para o amanhã. O novo ser humano contém todo o futuro da humanidade.

O ser humano antigo está condenado à morte. Ele preparou sua própria sepultura — está cavando a cada dia, cada vez mais fundo. Armas nucleares e todas as medidas destrutivas são uma preparação para o suicídio global. O homem antigo decidiu morrer.

Cabe às pessoas inteligentes deste mundo desligarem-se do homem antigo antes que ele as destrua também... desligarem-se das antigas tradições, das antigas religiões, das antigas nações, das antigas ideologias.

Pela primeira vez, o antigo não é mais valioso nem melhor. O antigo é o cadáver putrefato de um passado vil. É uma grande responsabilidade para a nova geração, para os jovens, renunciar ao passado.

No passado, as religiões costumavam ensinar as pessoas a renunciar ao mundo. Eu ensino você a amar o mundo, de modo que ele possa ser salvo, e renunciar ao passado total e irrevogavelmente, interrompê-lo.

O novo ser humano não é um melhoramento do antigo; ele não é um fenômeno contínuo, nem um aperfeiçoamento. O novo ser humano é a declaração de morte do antigo e o nascimento de um ser humano totalmente novo — não condicionado, sem nenhuma nação, sem nenhuma religião, sem nenhum preconceito de homem ou mulher, de branco ou de negro, de Oriente ou Ocidente, de Norte ou de Sul.

O novo homem é um manifesto de uma única humanidade. É a maior revolução que o mundo já viu.

Você já ouviu falar do milagre de Moisés: dividir o oceano em duas partes. Esse milagre não é nada. Eu quero dividir a humanidade, todo o oceano da humanidade em duas partes: o antigo e o novo.

O novo amará esta vida, este mundo. O novo aprenderá a arte de viver, de amar e de morrer. O novo não se preocupará com céu e inferno, pecado e virtude. O novo homem se preocupará em aumentar as alegrias da vida, os prazeres da vida — mais flores, mais beleza, mais humanidade, mais compaixão.

E temos a capacidade e o potencial para tornar esse planeta um paraíso, e fazer desse momento o maior êxtase da nossa vida. Deixe o antigo morrer, deixe o antigo ser liderado por pessoas como Ronald Reagan. Deixe os cegos guiarem os cegos.

Mas aqueles que têm um espírito mais jovem — e quando eu digo "um espírito mais jovem", isso inclui até os velhos que não são velhos em espírito; e não inclui os jovens que não são jovens em espírito. Os espiritualmente jovens serão o novo homem.

O novo homem não é uma esperança. Ele já foi concebido e está no útero da humanidade. Minha tarefa é apenas tornar você consciente de que o novo homem já chegou. Minha tarefa é ajudar você a reconhecê-lo e a respeitá-lo. Você só tem que espanar a poeira que se acumulou durante eras no espelho da sua consciência.

O novo ser humano não é alguém vindo de outro planeta. O novo ser humano é você renovado, no silêncio do seu coração, nas profundezas da meditação, nos belos espaços do amor, nas canções de alegria, nas danças de êxtase, no amor a este planeta.

Nenhuma religião o ensina a amar a Terra — e esta Terra é a sua mãe, e estas árvores são suas irmãs e estas estrelas são suas amigas.

Na minha visão, você já está no caminho para o novo ser humano. Já começou a jornada, embora não esteja ainda totalmente desperto; mas quando você vir o antigo ser humano se aproximando cada vez mais da própria sepultura, ficará fácil, para você, renunciar aos seus modos de vida, suas igrejas, suas sinagogas, seus templos, seus deuses, suas santas escrituras.

Suas santas escrituras são, na verdade, a sua vida inteira, e ninguém mais pode escrevê-las — só você. Você nasce como um livro vazio e depende de você o que fazer com ele.

Nascer não é o mesmo que viver; é só uma oportunidade que lhe dão para criar a vida... para criar uma vida tão bela, gloriosa e amorosa quanto você pode imaginar, quanto você pode sonhar.

Os sonhos do novo ser humano e a sua realidade serão uma coisa só, porque os sonhos dele estarão enraizados aqui na Terra. Eles trarão flores e frutos. Não serão apenas sonhos — farão do mundo uma terra de sonho.

Perceba a responsabilidade. O ser humano nunca se viu diante de uma responsabilidade tão grande; a responsabilidade de renunciar a todo o passado, a apagá-lo do seu ser.

Seja Adão e Eva outra vez e deixe esta Terra ser o Jardim do Éden e então nós veremos quem é Deus e quem tem coragem de tirar o ser humano desse Jardim! Será o nosso jardim e, se Deus quiser ficar no nosso jardim, Ele terá que bater na nossa porta.

Esta Terra pode ser um esplendor, uma magia, um milagre. Nossas mãos têm esse toque — o que acontece é que nunca tentamos. O homem nunca deu ao seu potencial uma chance para crescer, para florir, para atingir a plenitude, o total contentamento, para encher a Terra de flores, encher a Terra com sua fragrância. Para mim essa fragrância é a divindade.

O novo ser humano não reverenciará um Deus como um criador do mundo; o novo ser humano criará Deus como uma fragrância, como beleza, como amor, como verdade. Até agora Deus tem sido o criador; para o novo ser humano, o ser humano será o criador; e Deus vai ser criado.

Podemos criar a divindade — está em nossas mãos. É por isso que eu digo que o novo ser humano é a maior revolução que já aconteceu neste mundo. E não há meio de evitá-la, pois o ser humano antigo está fadado à morte, determinado a cometer suicídio. Deixe que ele morra em paz.

Aqueles que têm um espírito rebelde deveriam apenas se ligar uns aos outros e eles seriam os salvadores, criariam uma nova Arca de Noé, começariam um novo mundo.

E porque conhecemos o velho mundo e suas misérias, podemos evitar todas essas misérias; podemos evitar toda inveja, toda raiva, todas as guerras, todas as tendências destrutivas...

Podemos passar por uma transformação total: podemos criar pessoas inocentes, pessoas amorosas, pessoas que respiram liberdade, pessoas que ajudam umas às outras a serem livres.

Podemos criar condições para que todos tenham dignidade, todos sejam respeitados — não de acordo com alguns ideais e valores, mas pelo que a pessoa é. O novo ser humano será o sal da terra.


Osho, em "Transformando Crises em Oportunidades: O Grande Desafio Para Criar um Futuro Dourado Para a Humanidade"

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Amor: Nem fácil nem difícil, só natural

O amor é um estado natural da consciência. Não é nem fácil nem difícil, essas palavras de forma nenhuma se aplicam a ele. Ele não é um esforço; por isso não pode ser fácil nem pode ser difícil.

É como respirar! É como as batidas do coração, é como o sangue circulando no nosso corpo.

O amor é o nosso próprio ser... mas esse amor ficou quase impossível. A sociedade não o permite. A sociedade condiciona você de tal forma que o amor fica impossível e o ódio passa a ser a única coisa possível.

Então o ódio é fácil, e o amor não só é difícil como impossível.

O homem tem sido deturpado. Ele não pode ser reduzido à escravidão se não for primeiro deturpado. Os políticos e os padres têm participado de uma profunda conspiração ao longo das eras. Eles têm reduzido a humanidade a uma multidão de escravos.

Estão destruindo qualquer possibilidade de rebelião no homem — e o amor é uma rebelião, porque o amor ouve só o coração e não dá a mínima para o resto.

O amor é perigoso porque ele faz de você um indivíduo. E o Estado e a Igreja... eles não querem indivíduos, de jeito nenhum. Não querem seres humanos, querem ovelhas. Querem pessoas que só pareçam seres humanos, mas cuja alma tenha sido esmagada de tal maneira, tenha sido danificada a tal ponto, que o estrago pareça quase irremediável.

E a melhor maneira de destruir o homem é destruir sua espontaneidade de amar. Se o homem tiver amor, não poderá haver nações; as nações existem no ódio. Os indianos odeiam os paquistaneses e os paquistaneses odeiam os indianos — só assim esses dois países podem existir.

Se o amor surgir, as fronteiras vão desaparecer.

Se o amor surgir, então quem vai ser cristão e quem vai ser judeu? Se o amor surgir, as religiões desaparecerão. Se o amor surgir, quem irá ao templo? Para quê?

É porque está faltando amor que você sai em busca de Deus. Deus não é nada mais do que um substituto para o amor que está faltando. Como você não é bem-aventurado, não está em paz, não está em êxtase, você está em busca de Deus.

Se a sua vida é uma dança, Deus já está no seu coração. O coração amoroso está cheio de Deus. Não há necessidade de mais nenhuma busca, não há necessidade de mais nenhuma prece, não há necessidade de ir a templo nenhum, de procurar padre nenhum.

Por isso o padre e o político, esses dois, são inimigos da humanidade. Eles estão conspirando, pois o político quer governar seu corpo e o padre quer governar sua alma. E o segredo é o mesmo: destruir o amor. Então o homem passa a ser nada além de uma vacuidade, de um vazio, uma existência sem sentido.

Então você pode fazer o que quiser com a humanidade e ninguém se rebelará, ninguém terá coragem suficiente para se rebelar.

O amor dá coragem, o amor leva todo o medo embora — e os opressores dependem do seu medo. Eles criam medo em você, mil e um tipos de medo. Você fica cercado de medos, toda a sua psicologia é cheia de medos.

Lá no fundo você está tremendo. Só na superfície você mantém uma certa fachada; mas, dentro de você, existem camadas e camadas de medo.

Um homem cheio de medo só pode odiar — o ódio é uma consequência natural do medo. Um homem cheio de medo é também cheio de raiva, e um homem cheio de medo é mais contra a vida do que a favor dela. A morte parece um estado repousante para ele.

O homem temeroso é suicida, tem uma visão negativa da vida. A vida lhe parece perigosa, pois viver significa que você terá de amar — como você poderá viver?

Exatamente como o corpo precisa respirar para viver, a alma precisa de amor para viver. E o amor está definitivamente envenenado.

Envenenando a sua energia de amor, eles criaram uma cisão em você; criaram um inimigo dentro de você, dividiram-no em dois. Eles criaram uma guerra civil, e você está sempre em conflito. E, no conflito, sua energia é dissipada; por isso sua vida não tem sabor, alegria. Não transborda de energia; ela é sem graça, insípida, falta-lhe inteligência.

O amor aguça a inteligência, o medo a embota.

Quem quer que você seja inteligente? Não aqueles que estão no poder. Como eles podem querer que você seja inteligente? — porque, se for inteligente, você começará a ver toda a estratégia, os jogos que eles fazem. Eles querem que você seja burro e medíocre.

Certamente querem que você seja eficiente no que diz respeito ao trabalho, mas não inteligente; por isso a humanidade vive o seu potencial mínimo.


Osho, em "Coragem: O Prazer de Viver Perigosamente"