domingo, 31 de outubro de 2010

Por que guardamos tanto?

Os objetos são vistos como uma extensão de nossa personalidade, pode perceber. Mas pense bem: será que nós precisamos mesmo de tudo o que acumulamos? Não seria bom se livrar de alguns anéis – desde que ficassem os dedos –, grãos de lembrança e algumas pessoas que não fazem mais parte de nossas vidas? Muitas vezes, só mantemos algo por não sabermos o que colocar no lugar... parece que, abrir mão deles seria como abrir mão de nós mesmos.
Nesse sentido, cada objeto assume uma significação simbólica e, em algumas ocasiões, isso passa a ter mais força do que o objeto em si. E' um sutiã veelho e esgarçado que sua mãe fez a própria mão, ou o seu primeiro bicho de pelúcia - que não terá chance alguma de seus futuros filhos brincarem porque já esta' arrebentado e saindo as bolinhas que o preencheram por tanto tempo -, ou algo enferrujado que ganhou do primeiro namorado... e assim por diante.
Mas e' verdade também que, a sociedade de consumo tem um tantinho de culpa por essa mania de não nos livrarmos das coisas - afinal, ela estimula a posse loucamente.
É fácil enumerar diversos motivos para que alguém sinta dificuldade em se livrar de coisas e sentimentos. O que não faltam são "auto desculpas"; Muitas vezes, guardamos algo de alguém que se foi como uma homenagem, até sermos capazes de realizar nossa despedida interna. Há ainda, o desejo de se precaver contra todas as eventualidades que o futuro possa trazer. Vai que ocorra uma enchente e você precise daquela galocha guardada há anos.
Pode ser também insegurança com relação ao futuro, medo de se livrar e não conseguir aquilo novamente, a preguiça de tomar uma decisão... Além disso, libertar-se do que está sobrando na nossa vida contradiz um valor muito cultuado hoje. Vivemos numa época em que lutamos o tempo todo para que as coisas não fujam de nossas mãos; pois existe uma preocupação exacerbada em não sermos roubados ou violados de alguma forma. E inclusive, ate' temos um grande setor do mercado, que se alimenta desse hábito através de seguro para repor o carro se ele for roubado, cadeados nos portões, cofres, cia.
Seja qual for a explicação para juntarmos coisas e sentimentos, a conclusão é que isso é ruim. Certas vezes, ao contrário de conferir identidade, objetos e pensamentos nos soterram em um monte de lixo e deixamos de ver quem realmente somos. E' necessário tirar todo esse lixo ao nosso redor - que não se resume apenas no lixo material, mas esse já e' um outro papo - acumulado todos esses anos, para que possamos ter maior clareza de nossas características, do que realmente queremos ou gostamos. Procure remover tudo o que não presta e então sua essência ficara' bem mais visível.
Desfazer-se do peso morto ainda abre espaço para a introspecção, perceba como ambientes entulhados causam uma superexcitação, ate' uma aflição... a mente fica o tempo todo sendo arrastada pelo objeto e não descansa nunca. Não é à toa que os mosteiros budistas, ambientes que convidam à meditação, são de decoração espartana. Assim é possível olhar para dentro de si mesmo e deixar que o fluxo de energia mova-se sem problemas como defende o feng shui.
Ao mesmo tempo em que gostamos de ter coisas, há sempre algo ou alguém nos impulsionando a substituir o que ficou obsoleto. O casaco de dois invernos precisa ser substituído por um com a cor da moda, mesmo ainda estando impecável; o celular não deve durar mais de um ano; carro tem de ser zero. Esse movimento gera uma série de sucatas, que se acumulam em algum lugar. Primeiro, nas casas e escritórios, depois quando decidimos nos desfazer delas, nos lixões. É a filosofia de destronar o velho para impor o novo. Mas quemm ditou que tudo precisa ser tão efêmero? Pois convenhamos, e' ótimo livrar-se de peças sem serventia, mas não é nada bom gerar muito lixo. E não estamos aqui chamando de lixo apenas aquilo que está estragado, mas objetos que, ainda em bom estado são encostados facilmente "em nome da modernidade". Talvez a solução não seja apenas jogá-los fora, mas sequer adquiri-los. Nem sempre o que é mais novo tem qualidade melhor... e, mesmo que tenha, o anterior talvez já garantisse qualidade suficiente.
O primeiro passo para liberar a área é, sem dúvida, estar disposto a isso. Não vale a pena sofrer demais - se achar que ainda não é o momento de doar peças de alguém querido que faleceu, espere o momento certo para isso... e comece por outro canto.
Precisamos nos desapegar do velho, dos automatismos, dos atalhos mentais que usamos por preguiça e que nos impedem de ter um novo olhar sobre tudo. A decisão de pôr mãos à obra e reorganizar o espaço interno e externo tem um efeito transformador, sei disso pois na minha mudança aqui pra os USA consegui me desfazer de 4 grandes caixas - e foi apenas o começo Mas me ajudou a perceber que abre espaço para uma nova disposição, um novo jeito de se posicionar na vida. É um movimento de renovação não apenas do que está visível, mas mais importante, do que está por dentro - de você mesmo.

7 comentários:

  1. Promover o desapego é tudo, pena q é tão difícil...

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  2. Amiga, não foi a Carla quem disse, fui eu! Só p esclarecer! ;) Bjosss

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  3. Nossa, nao entendi nenhum desses comentarios acima... quem ta' se negando ser a Carla, aparece como anonimo, rs.
    E a Gabi deixa um comentarios escrito "Gabi ;)"? Vcs ou eu to louca? Haha.

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  4. A louca, como sempre, sou eu mesma amiga! Lov U!

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  5. Belas palavras Srta Ju.

    Beijos.

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