terça-feira, 31 de julho de 2012

A suprema compreensão


A Suprema compreensão
transcende tudo isto e tudo aquilo.
A suprema ação
contém grande produtividade sem apego.
A suprema realização
é compreender a imanência sem desejo.


De início, o iogue sente que sua mente
se está despencando como uma cascata;
a meio curso, como o Ganges,
ela flui, lenta e suavemente;
ao fim, é um grande, um vasto oceano,
onde as luzes da mãe e do filho fundem-se numa só. *

Todos nascem livres, porém morrem em cativeiro. No início de tua vida tu és totalmente desprendido e natural mas, depois, entra a sociedade, surgem as regras e os regulamentos, a moralidade, a disciplina e muitos tipos de treinamento.

Assim, o desprendimento e a naturalidade, bem como o ser espontâneo, estão perdidos. Cada qual começa a reunir em torno de si uma espécie de armadura. Cada qual começa a tornar-se mais rígido. A suavidade interior já não mais é visível.

Na fronteira do ser cada qual cria um fenômeno parecido a uma fortaleza para se defender, para não ser vulnerável, para reagir, para ter segurança: a liberdade de ser está perdida.

Cada qual começa a olhar nos olhos do outro: sua aprovação, suas negações, suas condenações, suas apreciações vão se tornando cada vez mais valiosas. "Os outros" torna-se o critério e todos passam a imitar e a seguir os outros, porque todos temos de viver uns com os outros.

A criança é muito maleável, pode ser modelada de qualquer maneira e a sociedade começa a modelá-la: os pais, os professores, a escola. Aos poucos, ela se torna um caráter, e não um ser. Aprende todas as regras, ou se torna um conformista, o que também é cativeiro, ou se faz rebelde, o que é uma outra espécie de cativeiro.

Se transformar-se num conformista, ortodoxo, quadrado, estará presa a uma qualidade de cativeiro; pode reagir, pode tornar-se um hippie, ir ao outro extremo, mas ainda permanecerá preso a outro tipo de cativeiro — porque a reação depende da mesma coisa contra a qual reage.

Podes ir ao mais longínquo ponto do mundo, mas, bem no fundo da mente, tu te estarás rebelando contra as mesmas regras. Outros as seguem, tu reages, mas o foco permanece centrado nelas. Reacionários ou revolucionários, todos viajam no mesmo barco. Podem estar uns contra os outros, costas contra costas, mas o barco é o mesmo.

Um homem religioso* não é reacionário nem revolucionário. Um homem religioso é, simplesmente, desprendido e natural: não é a favor nem contra as coisas, é simplesmente ele mesmo, não tem regras a seguir nem regras a repelir: não tem regras.

Um homem religioso é livre em seu próprio ser; não está modelado por hábitos e condicionamentos. Não é culto — não que seja incivilizado e primitivo; ao contrário, é a mais alta expressão em civilização e cultura; mas não é um ser culto. Cresceu em sua percepção e não necessita de regras; transcendeu às regras.

É verdadeiro, não porque sua regra seja ser verdadeiro; sendo desprendido e natural ele é simplesmente verdadeiro, acontece-lhe ser verdadeiro. Tem compaixão, não porque siga um preceito: sê compassivo! Não. Sendo desprendido e natural, sua compaixão fluindo naturalmente, nada precisa fazer, de sua parte; a compaixão é um resultado de seu progresso em percepção.

Não é contra a sociedade, nem pela sociedade — está, simplesmente, para além dela. Tornou-se, de novo, uma criança, criança de um mundo inteiramente desconhecido, uma criança em nova dimensão; em uma palavra: renasceu.


Osho, em "Tantra: A Suprema Compreensão"
 
 

* Religiosidade é diferente de religião

Para mim, religião é uma qualidade, e não uma organização. Todas as religiões que existem, e elas não são em número pequeno – há trezentas religiões no mundo –, todas elas são rochas mortas. Elas não fluem, não mudam, não se movem com os tempos. E qualquer coisa que esteja morta não vai ajudar você, a menos que queira fazer um túmulo; então talvez a rocha possa ser útil.

Todas as assim chamadas religiões têm feito túmulos para você, destruindo a sua vida, o seu amor, a sua alegria e enchendo a sua cabeça com fantasias, ilusões e alucinações a respeito de Deus, do céu e do inferno, da reencarnação e de todos os tipos de asneira.

Confio na fluência, na mudança, no movimento... porque essa é a natureza da vida. Ela conhece apenas uma coisa permanente, que é a mudança. Só a mudança nunca muda, todo o resto muda. No outono, as árvores ficam nuas; todas as folhas caem sem reclamação; silenciosamente, em paz, elas se unem outra vez à terra de onde vieram.

As árvores nuas contra o céu têm uma beleza própria, e deve haver uma tremenda confiança em seus corações, pois elas sabem que, se as folhas velhas foram embora, as novas virão; e logo folhas novas, mais jovens e mais delicadas, começam a surgir.

Uma religião não deveria ser uma organização morta, mas um tipo de religiosidade, uma propriedade que inclui verdade, sinceridade, naturalidade, um profundo relaxamento em relação ao cosmos, um coração amoroso, uma afabilidade para com o todo.

Osho, em "Religiosidade é Diferente de Religião"


 
 


 

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