terça-feira, 31 de julho de 2012

A suprema compreensão


A Suprema compreensão
transcende tudo isto e tudo aquilo.
A suprema ação
contém grande produtividade sem apego.
A suprema realização
é compreender a imanência sem desejo.


De início, o iogue sente que sua mente
se está despencando como uma cascata;
a meio curso, como o Ganges,
ela flui, lenta e suavemente;
ao fim, é um grande, um vasto oceano,
onde as luzes da mãe e do filho fundem-se numa só. *

Todos nascem livres, porém morrem em cativeiro. No início de tua vida tu és totalmente desprendido e natural mas, depois, entra a sociedade, surgem as regras e os regulamentos, a moralidade, a disciplina e muitos tipos de treinamento.

Assim, o desprendimento e a naturalidade, bem como o ser espontâneo, estão perdidos. Cada qual começa a reunir em torno de si uma espécie de armadura. Cada qual começa a tornar-se mais rígido. A suavidade interior já não mais é visível.

Na fronteira do ser cada qual cria um fenômeno parecido a uma fortaleza para se defender, para não ser vulnerável, para reagir, para ter segurança: a liberdade de ser está perdida.

Cada qual começa a olhar nos olhos do outro: sua aprovação, suas negações, suas condenações, suas apreciações vão se tornando cada vez mais valiosas. "Os outros" torna-se o critério e todos passam a imitar e a seguir os outros, porque todos temos de viver uns com os outros.

A criança é muito maleável, pode ser modelada de qualquer maneira e a sociedade começa a modelá-la: os pais, os professores, a escola. Aos poucos, ela se torna um caráter, e não um ser. Aprende todas as regras, ou se torna um conformista, o que também é cativeiro, ou se faz rebelde, o que é uma outra espécie de cativeiro.

Se transformar-se num conformista, ortodoxo, quadrado, estará presa a uma qualidade de cativeiro; pode reagir, pode tornar-se um hippie, ir ao outro extremo, mas ainda permanecerá preso a outro tipo de cativeiro — porque a reação depende da mesma coisa contra a qual reage.

Podes ir ao mais longínquo ponto do mundo, mas, bem no fundo da mente, tu te estarás rebelando contra as mesmas regras. Outros as seguem, tu reages, mas o foco permanece centrado nelas. Reacionários ou revolucionários, todos viajam no mesmo barco. Podem estar uns contra os outros, costas contra costas, mas o barco é o mesmo.

Um homem religioso* não é reacionário nem revolucionário. Um homem religioso é, simplesmente, desprendido e natural: não é a favor nem contra as coisas, é simplesmente ele mesmo, não tem regras a seguir nem regras a repelir: não tem regras.

Um homem religioso é livre em seu próprio ser; não está modelado por hábitos e condicionamentos. Não é culto — não que seja incivilizado e primitivo; ao contrário, é a mais alta expressão em civilização e cultura; mas não é um ser culto. Cresceu em sua percepção e não necessita de regras; transcendeu às regras.

É verdadeiro, não porque sua regra seja ser verdadeiro; sendo desprendido e natural ele é simplesmente verdadeiro, acontece-lhe ser verdadeiro. Tem compaixão, não porque siga um preceito: sê compassivo! Não. Sendo desprendido e natural, sua compaixão fluindo naturalmente, nada precisa fazer, de sua parte; a compaixão é um resultado de seu progresso em percepção.

Não é contra a sociedade, nem pela sociedade — está, simplesmente, para além dela. Tornou-se, de novo, uma criança, criança de um mundo inteiramente desconhecido, uma criança em nova dimensão; em uma palavra: renasceu.


Osho, em "Tantra: A Suprema Compreensão"
 
 

* Religiosidade é diferente de religião

Para mim, religião é uma qualidade, e não uma organização. Todas as religiões que existem, e elas não são em número pequeno – há trezentas religiões no mundo –, todas elas são rochas mortas. Elas não fluem, não mudam, não se movem com os tempos. E qualquer coisa que esteja morta não vai ajudar você, a menos que queira fazer um túmulo; então talvez a rocha possa ser útil.

Todas as assim chamadas religiões têm feito túmulos para você, destruindo a sua vida, o seu amor, a sua alegria e enchendo a sua cabeça com fantasias, ilusões e alucinações a respeito de Deus, do céu e do inferno, da reencarnação e de todos os tipos de asneira.

Confio na fluência, na mudança, no movimento... porque essa é a natureza da vida. Ela conhece apenas uma coisa permanente, que é a mudança. Só a mudança nunca muda, todo o resto muda. No outono, as árvores ficam nuas; todas as folhas caem sem reclamação; silenciosamente, em paz, elas se unem outra vez à terra de onde vieram.

As árvores nuas contra o céu têm uma beleza própria, e deve haver uma tremenda confiança em seus corações, pois elas sabem que, se as folhas velhas foram embora, as novas virão; e logo folhas novas, mais jovens e mais delicadas, começam a surgir.

Uma religião não deveria ser uma organização morta, mas um tipo de religiosidade, uma propriedade que inclui verdade, sinceridade, naturalidade, um profundo relaxamento em relação ao cosmos, um coração amoroso, uma afabilidade para com o todo.

Osho, em "Religiosidade é Diferente de Religião"


 
 


 

Nada existe separadamente

Uma garota contou à amiga que tinha ficado noiva de um vendedor que costumava viajar muito.
"Ele é bonito?", perguntou a amiga.
"Veja, ele jamais se destacaria na multidão."
"Ele tem dinheiro?", continuou a amiga.
"Se ele tem, não costuma gastá-lo."
"E com relação a maus hábitos. Ele tem algum?"
"Bem, ele bebe bastante", disse a futura esposa.
"Eu não entendo você", disse a amiga. "Se você não consegue dizer nada de bom a respeito dele, então por que está se casando com ele?"
"Ele viaja o tempo todo", respondeu ela, "e eu não vou vê-lo nunca."

Essa é a única coisa boa com relação a isso — e essa é a coisa boa sobre o deus dos padres: você nunca vai vê-lo. É por isso que você continua acompanhando o padre.

Para evitar Deus, você segue o padre. Para evitar Deus, você lê a Bíblia. Para evitar Deus, você entoa os Vedas. Para evitar Deus, você se torna um estudioso, um pensador. Para evitar Deus, você está fazendo tudo o que é possível.

Mas por que você quer evitar Deus? Por que, em primeiro lugar, você quer evitar Deus? Existem razões para isso. Basta a ideia de Deus para gerar um medo incrível, porque Deus vai significar a morte para seu ego. Você não vai existir se Deus estiver presente.

O grande místico indiano Kabir disse: "Olhe a ironia disso. Quando eu estou, Deus não está; agora Deus está, e eu não estou. De qualquer modo, o encontro não se deu". Porque para um encontro, são necessárias pelo menos duas pessoas. "Quando eu estava, Deus não estava; agora Deus está, e eu não estou."

O temor é porque você vai ter de perder a si mesmo. Você tem medo da morte; é por isso que você tem medo da morte; é por isso que tem medo de Deus. E é por isso que tem medo do amor, e é por isso que tem medo de tudo o que é grande.

Você está muito ligado a esse falso ego que nunca dá nada a não ser infelicidade e dor, mas ao menos lhe dá o sentimento de que você existe. Preste atenção nisso. Medite sobre isso.

Se você quer existir, então sempre irá cair na armadilha do padre. Na verdade, você não existe. Toda a ideia é uma falsa noção. Como você pode existir? As ondas existem, mas não separadas do oceano. Da mesma forma, nós existimos: não separados do oceano da existência.

É isso que Deus é. As folhas existem, mas não separadas da árvore. Tudo existe, mas nada existe separadamente.

Osho, em "Zen: Sua História e Seus Ensinamentos"

domingo, 29 de julho de 2012

Despertando o mundo

Pergunta a Osho:
Nunca pensei que teria a chance de vir aqui. Tome cuidado com minhas perguntas!
Eles disseram que seria seguro dizer-lhe que estou um pouco nervosa! Uma das coisas que tenho lido que você tem dito, e eu tenho ouvido você dizer em vídeos, é que você conta algumas piadas para despertar o mundo. Quando o mundo adormeceu? E está ele despertando?
Ele tem estado sempre adormecido. Somente uns poucos indivíduos em toda a história do homem têmestado despertos. Seus nomes podem ser contados nos dez dedos, não mais que isso. E isto foi natural: o homem evoluiu dos animais.

Os animais estão em um sono profundo, eles não sabem que eles são.Este é o significado de sono - se é, mas não se está consciente de que se é. Nenhum animal está consciente de si mesmo.

E eu concordo com Charles Darwin, em bases diferentes... Suas bases são ordinárias, mundanas; podem ser criticadas, têm sido criticadas. De fato, ele não é mais um cientista aceito quanto à evolução da humanidade. A maioria dos cientistas tem desertado dele. Mas eu estou no seu apoio em uma base totalmente diferente.

Minha base é: olhando para o sono do homem -  esta é a única possibilidade: que ele cresceu a partir dos animais - macacos, chimpanzés. Seja o que for, seja quem for, estava lá no começo. O sono do homem prova isso.

E somente raramente, uma vez ou outra - um Gautama Buda, um Bodidarma, um Sócrates - uma vez ou outra tem existido um homem que tem a coragem de sair do sono. É preciso tremenda coragem para sair do sono, porque nós temos investido muito no sono. É como um homem que está sonhando que está vivendo em um palácio dourado - com um grande reino, com todo o luxo - e você tenta acordá-lo.

Ele é somente um mendigo na rua. Somente mendigos sonham ser imperadores. Imperadores nunca sonham ser imperadores, isso seria simplesmente ilógico. O mendigo tem tanto investimento no seu sono e sonho, que ele irá resistir de todas as maneiras possíveis, para não ser acordado. Ele ficará irritado. Ele se oporá a você. "Quem é você para interferir na minha vida? Não pode você ao menos tolerar um homem que está tendo um lindo sonho?"

E mesmo se forçá-lo a despertar ele irá cair no sono novamente, porque acordado ele é somente um mendigo, adormecido ele torna-se um imperador. O investimento em sono psicológico é tremendo.
É por isso que todas essas pessoas - Gautama Buda, Bodidarma, Chuang Tzu, Plotinus, Heraclitus - todos eles falharam. Eles fizeram o seu melhor. Eles lutaram contra o sono do homem, mas, ainda, o homem está adormecido, e o que quer que ele faça prova que ele está adormecido.

Estas duas Guerras Mundiais provam que ele está adormecido. A vindoura Terceira Guerra Mundial pode ser evitada somente se nós pudermos despertar pessoas suficientes então estas pessoas tornam-se contagiantes e seguem despertando outras pessoas em uma corrente e isso tem que ser feito bem rápido, porque não há muito tempo.

De outra forma, as pessoas adormecidas irão destruir esta terra, esta vida. Os políticos estão adormecidos. Nenhuma pessoa desperta pode tornar-se um político pela simples razão de que ela não pode mentir, ela não pode lhe fazer promessas que ela sabe que nunca poderão ser cumpridas. Nenhuma pessoa desperta será um político, porque ela não tem nenhum desejo para preencher seu ego. Não há mais ego.

O ego existe como um eu substituto no sono. No momento em que você está desperto o ego não tem mais função, é desnecessário. Você está lá, agora você não precisa dele. E o homem que conhece a si mesmo
não tem complexo de inferioridade.

A não ser que você esteja sofrendo de algum complexo de inferioridade, você não se envolverá em qualquer tipo de liderança - política, religiosa, social. Você não tem a base. O complexo de inferioridade é a causa de todos se tornarem ambiciosos, porque se eles não se tornarem alguém no mundo, então, aos seus próprios olhos, eles terão fracassado.

Eles querem provar-se, provar que "nós estamos aqui!", que "nós temos estado aqui!". Eles querem ter gravados seus nomes na História - embora saibam que mesmo os grandes nomes da História pouco a pouco vão deslizando da proeminência; tornam-se notas de rodapé, movem-se para o apêndice e porta afora.

Naturalmente, quantas pessoas podemos seguir carregando? Mas eles querem fazer seus nomes. Isto também prova ser algo animal. Todos os animais no mundo têm um instinto. Os cientistas chamam-no
o imperativo territorial.

O cachorro mijando na árvore está simplesmente fazendo a sua assinatura. Ele está dizendo: "esta árvore me pertence". Ele não permitirá que outro cachorro se aproxime. Outros cachorros sentirão o cheiro da sua urina e saberão que esta árvore não está livre, não está disponível, alguém a possui. Existem animais que seguirão - particularmente o leão - urinando em um vasto território, somente para que todos fiquem avisados.

O homem também funciona da mesma maneira. Todas estas nações são nada mais que pessoas mijando e  fazendo fronteira. "Isto é a América, isto é a União Soviética, isto é a Índia! Você pode cheirar é um país diferente; não entre sem um visto, sem um passaporte".  Caso contrário, não há necessidade de qualquer nação na terra. Qual a necessidade? Podemos viver como uma humanidade?

Osho, em "O Último Testamento"

O terrorismo está na sua inconsciência

Perguntaram a Osho:
Amado Osho,
Eu ouvi dizer que, na Europa, a ameaça do terrorismo tem provocado medo em todo mundo. Aviões são atrasados por medidas extraordinárias de segurança, muitos assentos ficam vazios, e alguns aeroportos são fechados. As pessoas estão pensando duas vezes até mesmo para sair de casa à noite. E tudo isso está aparecendo de forma mais predominante desde o recente bombardeio da Líbia. O surgimento do terrorismo na última década é de algum modo simbólico do que está acontecendo à sociedade em geral?
Todas as coisas estão profundamente relacionadas com todas as outras coisas que acontecem. O evento do terrorismo está, certamente, relacionado com o que está acontecendo na sociedade. A sociedade está se despedaçando. Sua velha ordem, disciplina, moralidade, religião - descobriu-se que tudo isso está assentado em bases erradas. Perdeu o poder sobre a consciência das pessoas.

O terrorismo simplesmente simboliza que destruir seres humanos não importa, que não existe nada nos seres humanos que seja indestrutível, que tudo é matéria -... e não se pode matar a matéria, pode-se somente mudar sua forma. Uma vez que o homem seja tomado apenas como uma combinação material e não seja dado nenhum lugar para um ser espiritual dentro dele, então, matar torna-se simplesmente um divertimento.

As nações tornaram-se irrelevantes devido às armas atômicas. Se o mundo inteiro pode ser destruído de uma só vez em poucos minutos, a alternativa que resta só pode ser a de o mundo se juntar. Agora ele não pode mais ficar separado; sua divisão é perigosa, porque a divisão pode virar guerra a qualquer momento. A divisão não mais pode ser tolerada. Uma só guerra pode ser o suficiente para destruir tudo, e não sobrou muito tempo para o homem compreender que devemos criar um mundo onde a própria possibilidade de guerra não exista.

O terrorismo tem muitas subcorrentes. Uma é que, devido às armas nucleares, as nações estão derramando sua energia nesse campo, supondo que as velhas armas estão ultrapassadas. Elas estão ultrapassadas, mas os indivíduos podem começar a usá-las. E vocês não podem usar armas nucleares contra indivíduos - isso seria simplesmente estúpido. Um terrorista individual atira uma bomba - isso não justifica que se lance mão de um míssil nuclear.

O que eu quero enfatizar é que a arma nuclear deu aos indivíduos uma certa liberdade para usarem as armas antigas, uma liberdade que não era possível nos velhos dias, porque os governos também estavam usando as mesmas armas.

Atualmente os governos estão concentrados em destruir as velhas armas, jogando-as no oceano, vendendo-as para países pobres que não podem comprar armas atômicas. E todos esses terroristas estão surgindo desses países pobres, com as mesmas armas que foram vendidas aos seus países. E eles têm uma estranha proteção: não se pode usar armas nucleares contra eles, não se pode jogar bombas atômicas contra eles.

Eles podem jogar bombas em vocês e vocês estão repentinamente impotentes. Vocês têm uma vasta quantidade de poderosas bombas atômicas, bombas nucleares, mas, às vezes, onde uma agulha é necessária, uma espada pode não ter nenhuma utilidade. Você pode ter a espada; isso não significa que você esteja numa posição superior diante do homem que tem uma agulha, porque há propósitos para os quais somente a agulha servirá - a espada não será útil.

Aquelas pequenas bombas dos velhos tempos estavam empilhadas, e os grandes poderosos tinham de se desfazer delas - ou jogá-las no oceano... Isso significaria que demasiado dinheiro, demasiado poder do homem, demasiada energia teriam sido desperdiçados; economicamente, seria desastroso. Mas simplesmente continuar empilhando-as também era economicamente inviável. Quantas armas se pode juntar? Há um limite. E quando você elabora um novo modo de matar as pessoas de forma mais eficiente, então o velho modo simplesmente tem de ser descartado.

Pensou-se, então, que seria melhor vendê-las aos países pobres. Os países pobres não podem criar armas nucleares - custa caríssimo. E aquelas armas chegavam barato até eles - como um auxílio. Eles aceitaram a ajuda. Mas aquelas armas não servem para serem utilizadas numa guerra. Numa guerra, aquelas armas já se tornaram inúteis. Mas ninguém viu a possibilidade de que essas armas pudessem ser usadas individualmente. E um novo fenômeno - o terrorismo - pôde surgir.

Agora, um terrorista tem um estranho poder, até mesmo sobre os maiores poderes. Ele pode jogar bombas na Casa Branca sem nenhum medo, porque o que se tem para resposta é grande demais e não pode ser jogado em cima dele. E aquelas armas foram vendidas por vocês! Mas o fenômeno não fora concebido, porque não se compreende a psicologia humana.

A minha compreensão é a de que, do modo como ele tem vivido, o homem precisa de uma guerra a cada dez, doze anos. Ele acumula tanta raiva, tanto ódio, tanta violência, que nada menor do que uma guerra pode aliviá-lo. Assim, de guerra em guerra, há um intervalo de somente dez a quinze anos. Esse intervalo é uma espécie de relaxamento. Mas novamente começa-se a acumular, porque a mesma psicologia continua agindo - a mesma inveja, a mesma violência.

O homem é basicamente um caçador; ele não é vegetariano por natureza. Primeiro ele se tornou caçador, e durante milhares de anos ele foi apenas um comedor de carne, e o canibalismo prevalecia em todos os lugares. Comer seres humanos capturados da tribo oposta, com a qual você lutara, era perfeitamente ético. Tudo isso é carregado no inconsciente da humanidade.

As religiões impuseram coisas sobre o homem, muito superficialmente - seu inconsciente não está em concordância. Cada homem está vivendo em discordância consigo mesmo. Assim, sempre que ele encontra uma chance - a favor de uma bela causa... liberdade, democracia, socialismo... - qualquer bela palavra pode tornar-se um guarda-chuva para esconder seu horroroso inconsciente, que simplesmente quer destruir e se divertir com a destruição.

Atualmente, a guerra mundial tornou-se quase impossível; caso contrário, não teria havido nenhum terrorismo. Passou tempo suficiente desde a segunda guerra mundial; a terceira guerra mundial deveria ter acontecido por volta de 1960. Ela não aconteceu. Essa tem sido a rotina durante toda a História, e o homem está programado para ela.

Tem sido observado pelos psicólogos que, em tempo de guerra, as pessoas ficam mais felizes do que em tempo de paz. Em tempo de guerra, suas vidas têm emoção; em tempo de paz, elas parecem entediadas. Em tempo de guerra, de manhã cedo elas já estão procurando pelos jornais, ouvindo o rádio. As coisas podem estar acontecendo lá longe, mas elas ficam excitadas. Algo nelas sente uma afinidade.

Uma guerra que devia ter acontecido por volta de 1955 ou 1960 não aconteceu, e o homem está sobrecarregado de desejo de matar, de desejo de destruir. Só que ele quer bons nomes para isso.

O terrorismo vai se tornar cada vez maior, porque a terceira guerra mundial é quase impossível. E os estúpidos políticos não têm nenhuma outra alternativa. O terrorismo simplesmente significa que o que foi feito em escala social, agora tem de ser feito individualmente. Ele aumentará. Isso somente pode ser impedido se mudarmos o próprio embasamento da compreensão humana - o que é uma tarefa himalaiana - tanto mais, porque essas mesmas pessoas a quem vocês querem mudar, lutarão contra vocês. Elas não lhes permitirão mudá-las facilmente.

Na verdade, elas adoram o derramamento de sangue - elas simplesmente não têm coragem de dizer isso. Em um romance dos existencialistas, há um belo incidente, que quase pode ser tomado como verdadeiro. Um homem é apresentado diante do júri, porque ele tinha matado um estranho que estava sentado na praia. Ele jamais vira o estranho. Ele não o matara por dinheiro. Ele nem sequer sabia qual era a aparência daquele homem, porque ele o matara pelas costas, com um facão.

Eles jamais haviam se encontrado - não havia a questão da inimizade. Eles não eram nem conhecidos - nem ao menos haviam visto o rosto um do outro.

O juiz não conseguia decifrar, e perguntou ao assassino: “Por que você fez isso?”.

Ele disse: “Quando golpeei aquele homem com um facão, e um jorro de sangue saiu de suas costas, aquele foi um dos mais belos momentos que eu já vivi. Eu sei que o preço será a morte, mas estou pronto a pagar por ele - valeu. Vivi toda a minha vida enfastiado - nenhuma excitação, nenhuma aventura... Finalmente tive de decidir fazer alguma coisa. E esse ato tornou-me mundialmente famoso - meu retrato está em todos os jornais. E eu estou perfeitamente feliz de ter feito isso.”.

Não havia necessidade de nenhuma prova. O homem não estava negando nada - ao contrário, ele estava glorificando o ato. Mas a corte tem o seu próprio caminho rotineiro - testemunhas têm de ser produzidas; só as palavras dele não podem ser aceitas. Ele podia estar mentindo, ele podia não ter matado o homem. Ninguém o vira - não havia uma única testemunha ocular -, assim, evidências circunstanciais tinham de ser apresentadas pela polícia.

Uma delas era que possivelmente esse homem matara devido ao seu passado e à sua situação. Sua mãe morrera quando ele era jovem. E quando soube que sua mãe tinha morrido, ele teria dito: “Merda! Aquela mulher não me dá sossego nem ao morrer! É domingo, comprei entradas para ir o teatro com minha namorada. Mas eu sabia que ela tinha de fazer alguma coisa para destruir o meu dia - e ela destruiu!”.

Sua mãe tinha morrido e ele se põe a dizer que ela destruiu seu domingo! Ele iria ao teatro com a namorada, e agora tinha de ir ao enterro! Naturalmente as pessoas que ouviram sua reação, ficaram chocadas: “Isso não está certo... - o que você está dizendo?!”.

Ele respondeu: “O quê!? O que é certo e o que é errado? Ela não podia morrer num outro dia?... Há sete dias na semana - de segunda a sábado, ela poderia ter morrido em qualquer dia. Mas vocês não conhecem a minha mãe... - eu a conheço. Ela é uma cadela! Fez de propósito!”.

A segunda evidência foi que embora ele tivesse ido ao enterro, à noite fora visto dançando com a namorada numa discoteca. Lá, alguém lhe perguntara: “O que você está fazendo aqui?! Sua mãe acabou de morrer...”.

Ele disse: “E daí? Você acha que eu não posso dançar nunca mais? Minha mãe não vai ficar viva de novo, ela vai permanecer morta; então, que diferença faz que eu dance depois de seis horas, oito horas, oito meses, oito anos? O que importa isso?... - ela já morreu. E eu tenho de dançar e de viver e de amar, apesar da morte dela. Se todo mundo parasse de viver com a morte da mãe, com a morte do pai, então, não haveria mais nenhuma dança, nenhuma música no mundo.”.

A lógica dele está muito correta. Ele está dizendo: “Onde você risca a linha demarcatória? Depois de quantas horas eu posso dançar? - ...doze horas, quatorze horas, seis semanas...? Onde você porá a linha? - em que bases? Qual é o critério?... Então, isso não importa! Uma só coisa é certa: quando quer que dance, estarei dançando após a morte de minha mãe. Assim, decidi dançar hoje. Por que esperar por amanhã?”.

Tais evidências circunstanciais são apresentadas ao júri - que aquele homem era realmente esquisito, que ele poderia ter cometido tal crime. Mas, se você olhar de perto para aquele pobre homem, você não sentirá raiva dele; você se sentirá muito compassivo. Ora, não é sua culpa que sua mãe tenha morrido! E, de qualquer maneira, ele terá de dançar algum dia! Portanto, isso não faz nenhuma diferença. E você não pode acusar esse homem por dizer coisas feias: “Ela morreu deliberadamente num domingo, para acabar com a minha alegria!” - porque toda a sua experiência de vida devia ter sido a de que ela esteve sempre atrapalhando qualquer possibilidade de alegria. Essa era a conclusão final: “Nem na morte ela me dá sossego.”.

E você não pode condenar o homem por matar um estranho... - porque ele não é um ladrão: ele não roubou nada dele. O outro não era um inimigo - ele nem ao menos vira quem era o homem que ele estava matando. Ele estava simplesmente enfastiado com a vida e queria fazer alguma coisa que pudesse fazê-lo sentir-se significante, importante. Ele está feliz de que todos os jornais tenham sua fotografia. Se tivessem publicado sua foto antes, ele não teria matado; mas eles esperaram - enquanto ele não matasse, eles não publicariam sua foto. E ele queria ser uma celebridade... simplesmente, desejos humanos comuns.

E ele estava pronto a pagar com sua vida para tornar-se, pelo menos por um dia, conhecido no mundo todo, reconhecido por todos.

A menos que mudemos os fundamentos básicos da humanidade, o terrorismo vai tornar-se cada vez mais e mais um fato normal, cotidiano. Ele acontecerá nos aviões, acontecerá nos ônibus. Começará a acontecer nos carros. Começará a acontecer a estranhos. De repente, alguém vai chegar e atirar em você - não que você tenha feito alguma coisa a ele, mas, simplesmente, que o caçador está de volta.

O caçador ficava satisfeito na guerra. Agora a guerra parou e talvez não mais haja possibilidade para ela.

O caçador está de volta; agora não mais lutamos coletivamente. Cada indivíduo tem de fazer algo para liberar seu próprio vapor.

As coisas estão interconectadas. A primeira coisa que tem de ser mudada é que o homem deveria ser tornado mais jubiloso - o que todas as religiões mataram. Os verdadeiros criminosos não estão presos. Estes são as vítimas, os terroristas e os outros criminosos.

São todas as religiões que são as verdadeiras criminosas, porque elas destruíram todas as possibilidades de júbilo. Elas destruíram a possibilidade de se desfrutar as pequenas coisas da vida - condenaram tudo o que a natureza oferece para fazê-los felizes, para deixá-los sentirem-se excitados, sentirem-se alegres.

Elas tiraram tudo; e quando não foram capazes de tirar algumas coisas, porque estão bastante entranhadas na biologia de vocês - como o sexo -, elas pelo menos as envenenaram.

Friedrich Nietzsche, de acordo comigo, é um dos maiores visionários do mundo ocidental; seus olhos vão realmente penetrando até a própria raiz de um problema. Mas como outros não podiam ver assim - seus olhos não eram tão penetrantes, nem suas inteligências eram tão aguçadas -, o homem viveu sozinho, abandonado, isolado, não amado, desrespeitado. Ele diz em uma de suas afirmações que o homem aprendeu com as religiões a condenar o sexo, a renunciar ao sexo. A religião não foi capaz de administrá-lo; e o homem tentou duramente, mas fracassou, porque ele está deveras enraizado na sua biologia - ele constitui o seu corpo. O homem nasce do sexo - como pode aquele livrar-se deste, exceto cometendo o suicídio?

Assim, o homem tem tentado, e as religiões têm auxiliado na tentativa de livrar-se dele - milhares de disciplinas e de estratégias têm sido usadas. O resultado final é que o sexo está aí, mas envenenado. Essa palavra ‘envenenado’ é um tremendo insight. As religiões não foram capazes de eliminá-lo, mas elas foram certamente bem-sucedidas em envenená-lo.

E a mesma é a situação sobre outras coisas: as religiões ficam condenando o viver em conforto. Ora, um homem que esteja vivendo no conforto e no luxo, não pode ser um terrorista. As religiões condenaram os ricos, louvaram a pobreza; ora, um homem que seja rico, não pode ser um terrorista. Somente os “bem-aventurados”, que são os pobres, podem ser terroristas - porque eles não têm nada a perder, e estão fervendo contra toda a sociedade, porque os outros têm coisas que eles não têm.

As religiões andaram tentando consolá-los. Mas aí veio o comunismo - uma religião materialista -, que provocou as pessoas e disse a elas: “Suas velhas religiões são, todas, ópio para o povo, e não é devido às suas más ações nesta vida, ou em vidas passadas, que vocês estão sofrendo de pobreza. É devido à danosa exploração dos burgueses, dos super-ricos, que vocês estão sofrendo.”.

A última frase de Karl Marx no Manifesto Comunista é esta: “Proletários de todo o mundo, uni-vos; vocês não têm nada a perder e têm o mundo todo a ganhar.

“Vocês já são pobres, famintos, estão nus - então, o que podem perder? Sua morte não pode fazê-los mais miseráveis do que a vida está fazendo. Então por que não aproveitar a chance e destruir essas pessoas que têm tirado tudo de vocês? E tomem essas coisas de volta, distribuam-nas.”.

Daquilo com o que as religiões de algum modo estiveram consolando as pessoas - embora fosse errado e fosse esperteza e mentira, mas serviu para manter as pessoas em um estado semi-adormecido -, o comunismo repentinamente as tornou cientes. Isso significa que este mundo, agora, nunca mais vai ser pacífico, se não eliminarmos todas as podres ideias que foram implantadas no homem.

As primeiras são as trazidas pelas religiões - seus valores devem ser removidos, de modo que o homem possa sorrir novamente, possa rir novamente, possa alegrar-se novamente, possa ser natural novamente.

Em segundo lugar, o que o comunismo está dizendo tem de ser claramente exposto diante das pessoas - pois está psicologicamente errado. Vocês vão caindo de uma em outra armadilha. Não há dois homens sequer que sejam iguais: desse modo, a idéia de igualdade é absurda. E se vocês decidirem ser iguais, então, têm de aceitar a ditadura do proletariado. Isso significa que vocês têm de perder a sua liberdade.

Primeiro a igreja tira a sua liberdade, o Deus tira a sua liberdade. Agora o comunismo substitui a igreja, e ele também tirará a sua liberdade.

E, sem liberdade, você não pode regozijar. Você vive com medo, não com alegria.

Se pudermos limpar o embasamento do inconsciente da mente humana... - e é esse o meu trabalho... A mente pode ser limpa. O terrorismo não está nas bombas, nas suas mãos: o terrorismo está no seu inconsciente. Se não fosse assim, esse estado de coisas não continuaria tornando-se cada vez mais amargo. E parece que todas as espécies de pessoas cegas têm bombas em suas mãos e as estão atirando a esmo.

A terceira guerra mundial teria podido aliviar as pessoas por dez ou quinze anos. Mas a terceira guerra mundial não pode acontecer, porque, acontecendo, ela não aliviará as pessoas, ela simplesmente destruirá todo mundo.

Assim, a violência individual aumentará - já está aumentando. E todos os seus governos e todas as suas religiões irão perpetuando as velhas estratégias, sem compreender a nova situação.

A nova situação é que todo ser humano precisa passar por terapias, precisa compreender suas intenções inconscientes, precisa passar pelas meditações, de modo que possa se acalmar, ficar quieto - e olhar para o mundo com uma nova perspectiva: de silêncio.

Osho, em "Além da Psicologia

A verdadeira rebelião

Rebelde é aquele que não reage contra a sociedade, é aquele que compreende todo o jogo e simplesmente cai fora dele. O jogo passa a não fazer sentido para ele.

Ele não é contra o jogo. E essa é toda a beleza da rebelião: trata-se de liberdade.

O revolucionário não é livre. Ele está o tempo todo lutando contra algo - como pode haver liberdade na reação?

Liberdade significa compreensão. A pessoa compreende o jogo e, ao ver que ele é um modo de impedir a alma de crescer, um modo de não permitir alguém de ser quem é, ele simplesmente o abandona sem que ele deixe marcas na sua alma. A pessoa perdoa e esquece, seguindo em frente sem nada que a prenda à sociedade em nome do amor ou em nome do ódio.

A sociedade simplesmente desaparece para o rebelde. Ele pode viver no mundo ou pode sair dele, mas não pertence mais a ele; é um forasteiro.

Osho, em "Liberdade - A Coragem de Ser Você Mesmo"

Zen, Tantra, sexo e saúde


O Zen não possui nenhum sistema de crenças sobre coisa alguma, e isso também inclui o sexo – Zen não diz nada sobre isso. E isso deve ser definitivo. O Tantra tem uma atitude sobre o sexo. A razão? – o Tantra tenta reparar o que a sociedade fez.

Tantra é medicinal. A sociedade reprimiu o sexo, Tantra chega como um remédio para ajudá-lo a recuperar o equilíbrio. Vocês se inclinaram demasiadamente para a esquerda; Tantra vem e os auxilia a inclinar para a direita. E para recuperar o equilíbrio, às vezes vocês têm que tender demais para a direita, só assim o equilíbrio é restaurado.

Vocês nunca viram um equilibrista na corda? Aquele que anda sobre a corda esticada? Ele carrega uma vara nas mãos para manter o equilíbrio. Se ele sente que está inclinando demais para a esquerda, ele imediatamente começa a se inclinar para a direita. Então novamente ele sente que agora inclinou-se demais para a direita, ele começa a se inclinar para a esquerda. É assim que ele se mantém no meio.

Tantra é um remédio.

A sociedade criou uma mente repressiva, uma mente negativa da vida, uma mente antialegria. A sociedade é muito contra o sexo. Porque a sociedade é tão contra o sexo? – porque se você permite prazer sexual às pessoas, você não pode transformá-las em escravas. Isso é impossível – uma pessoa feliz não pode ser escravizada. Esse é o truque. Só as pessoas tristes podem ser escravizadas. Uma pessoa feliz é uma pessoa livre; ela possui uma espécie de independência nela.

Você não pode recrutar pessoas felizes para a guerra. Impossível. Porque elas iriam para a guerra? Mas se uma pessoa reprimiu sua sexualidade ela está pronta para ir para a guerra, ela está ansiosa para ir para a guerra, porque ela não tem sido capaz de desfrutar da vida.

Ela tornou-se incapaz de desfrutar, daí ficou sem nenhuma criatividade. Agora ela só pode fazer uma coisa – ela pode destruir. Toda sua energia tornou-se destrutiva e venenosa. Ela está pronta para ir para a guerra – não somente preparada, ela está ansiando por isso. Ela quer matar, ela quer destruir.

De fato, destruindo seres humanos ela terá uma satisfação substituta de penetrar. Essa penetração poderia ter sido no amor e teria sido bela. Quando você penetra no corpo de uma mulher no amor, isso é uma coisa. Isso é espiritual. Porém, quando as coisas dão errado e você penetra no corpo de alguém com uma espada, com uma lança, isso é feio, é violento, é destrutivo. Mas você está procurando por um substituto para a penetração.

Se for permitido a sociedade total liberdade quanto à alegria, ninguém será destrutivo. As pessoas que podem amar lindamente nunca são destrutivas. E as pessoas que podem amar lindamente e possuem a alegria de viver também não serão competitivas. Esses são os problemas.

Eis porque os povos primitivos não são tão competitivos. Eles estão desfrutando de suas vidas. Quem se importa em ter uma casa maior? Quem se importa em ter um saldo bancário maior? Para quê? Você está feliz com sua mulher e com seu homem e você está tendo uma dança na vida.

Quem quer ficar sentado no mercado por horas a fio, todos os dias, todos os anos, esperando que no final você terá um grande saldo no banco e então você irá se aposentar e desfrutar? Esse dia nunca chega. Não pode chegar, porque por toda a vida você permanece um asceta.

Lembrem-se, os homens de negócios são pessoas ascéticas. Eles devotaram tudo ao dinheiro. Agora, um homem que sabe amar e que conheceu a emoção do amor e do êxtase, não será competitivo.

Ele será feliz se ele puder conseguir seu pão de cada dia. Esse é o significado da oração de Jesus: “Dai nosso pão de cada dia”. Isso é mais que suficiente. Agora Jesus parece bobo. Ele devia ter pedido, “Dai-nos um maior saldo bancário”. Ele só pede pelo pão de cada dia? Um homem feliz nunca pede mais que isso. A alegria é tão realizadora.

Somente os seres insatisfeitos são competitivos, porque eles pensam que a vida não está aqui, ela está lá. “Eu tenho que alcançar Déli e me tornar presidente”, ou ir para a Casa Branca e me tornar isso ou aquilo. “Eu tenho que ir lá, a alegria está lá” – porque eles sabem que aqui não há nenhuma alegria. Assim eles estão sempre indo, indo, indo. Eles estão sempre no ir, e eles nunca alcançam.

E o homem que conhece a alegria, está aqui. Por que ele deveria ir para Déli? Para quê? Ele está completamente feliz aqui-agora. Suas necessidades são tão pequenas. Ele não possui desejos. Ele tem suas necessidades, certamente, mas nenhum desejo. Necessidades podem ser realizadas, desejos nunca. Necessidades são naturais, desejos são pervertidos.

Agora toda essa sociedade depende de uma coisa e essa é a repressão sexual. Do contrário a economia será destruída, sabotada. A guerra irá desaparecer e com ela todo o material bélico, e a política ficará sem sentido e o político não será mais importante. O dinheiro não terá valor, se for permitido a pessoa amar. Devido que a elas não é permitido amar, o dinheiro se torna o substituto, o dinheiro se torna seu amor. Assim existe uma estratégia sutil.

O sexo precisa ser reprimido, senão toda essa estrutura da sociedade cairá imediatamente. Só o amor liberado no mundo trará revolução. O comunismo fracassou, o fascismo fracassou, o capitalismo fracassou. Todos os ‘ismos’ fracassaram porque bem lá no fundo eles são repressão sexual. Nesse ponto não há nenhuma diferença.

Todos eles concordam sobre uma coisa – que o sexo precisa ser controlado, que não deve ser permitido às pessoas terem uma alegria inocente no sexo.

Para recuperar o equilíbrio chega o Tantra; Tantra é o remédio. Por isso o Tantra enfatiza tanto o sexo. As assim chamadas religiões dizem que sexo é pecado e o Tantra diz que sexo é o único fenômeno sagrado.

Tantra é o remédio. Zen não é um remédio. Zen é o estado quando a doença desaparece; e, é claro, com a doença, também o remédio. Uma vez que você fica curado de sua doença você não precisa continuar carregando a receita médica, o frasco e o remédio com você. Você joga tudo fora. Vai tudo para a lixeira.

A sociedade ordinária é contra o sexo; Tantra chega para ajudar a humanidade, para dar o sexo de volta a humanidade. E quando o sexo for devolvido, então surge o Zen. O Zen não tem nenhuma atitude.

Zen é saúde pura.

Osho, em "The Diamond Sutra"

sábado, 7 de julho de 2012

"O trote terrivel"

Trecho do livro “Learning the Human Game” (p. 76-77), de Alan Watts:

Na música, ninguém faz do final o objetivo. Se fosse assim, os melhores maestros seriam os que tocassem mais rápido; e existiriam compositores que só escreveriam finais. Pessoas iriam aos concertos para ouvirem apenas o último acorde — porque esse seria o final.
Mesma coisa na dança — você não busca um ponto particular na sala; onde você deveria chegar. O objetivo da dança toda é dançar. Agora, mas não vemos isso ser traduzida pela nossa educação para nossa vida diária. Temos um sistema escolar que nos passa uma impressão completamente diferente. É tudo serializado — e o que fazemos é colocar uma criança em um corredor com um sistema de séries, com um tipo de “venha gatinho, aqui aqui aqui…”.
E você vai por jardim de infância, e isso é ótimo, porque quando você finalizar, você vai pra primeira série. E então, veja, a primeira série leva pra segunda série, e assim por diante… E então você sai da escola básica e vai o ensino superior – está acelerando, a coisa está chegando… Então você vai pra faculdade, e então para a escola de graduação, e quando você acabou a graduação, você sai pro mundo. E então você consegue alguma ocupação onde você vende seguro. E você tem uma meta pra bater. E você vai batê-la.
Todo o tempo, aquela coisa está vindo, está vindo, está vindo — aquela grande coisa, o sucesso que você está se dedicando.
Então quando você acorda um dia aos 40 anos de idade, você diz “Meu Deus! Cheguei! Estou aqui!”. E você não se sente muito diferente do que sempre sentiu. E há uma pequena tristeza, porque você sente que foi um trote. E foi um trote. Um trote terrível.



Eles fizeram você perder tudo. Por causa de expectativa.
Olhe para as pessoas que vivem para se aposentar, economizando dinheiro. E então quando eles tem 65 anos, e não tem mais nenhuma energia, são mais ou menos impotentes, eles vão e apodrecem em uma comunidade de cidadãos idosos. Poque nós simplesmente traimos nós mesmos, durante todo o caminho.

Nós pensamentos que a vida, por analogia, era uma jornada, uma peregrinação, que teria um sério objetivo no final. E o objetivo era chegar nesse final. Sucesso, ou o que quer que seja, talvez o paraíso depois que estivesse morto. Mas perdemos o espírito durante todo o caminho.
Era uma música, e nós deveríamos ter cantado, ou dançado, enquanto a música estava sendo tocada“.

Escondida como amor

 Muito raramente a religião tem existido de maneira saudável — somente quando um Buda caminha na Terra, ou um Cristo, ou um Krishna, ou um Kabir. Do contrário, a religião tem existido como uma patologia, uma doença, uma neurose.


Aquele que realizou a religião através do seu próprio ser tem uma compreensão totalmente diferente dela. A compreensão daquele que imitou os outros não é, de maneira nenhuma, uma compreensão. A verdade não pode ser imitada. Você não pode tornar-se verdadeiro sendo uma cópia carbono.





A verdade é original e, para chegar até ela, você tem de ser original também. A verdade não é atingida seguindo alguém, a verdade é atingida através da compreensão da sua vida. A verdade não está em nenhuma crença, em nenhum argumento; a verdade está no mais profundo centro do seu ser, escondida como amor.

A verdade não é lógica; ela não é um silogismo, é uma explosão de amor. Sempre que a verdade explode em você, você atinge uma visão de vida, de Deus, de religião totalmente diferente. Os seus olhos adquirem uma qualidade diferente, uma transparência, uma clareza diferente.

Quando a sua mente está anuviada com pensamentos emprestados de outros, seja lá o que for que você chame de religião, não é religião, é apenas um sonho.

A diferença básica torna patológica uma pessoa imitadora. Um cristão é patológico, um hindu também. Krishna é saudável, soberbamente saudável; assim também é Cristo. Quando Cristo diz alguma coisa, ele a conhece. Ele não está repetindo o que alguém disse, ele não é um papagaio. Ele é a sua própria realização — e isto faz toda a diferença.

Quando você se torna um cristão, repete Cristo. Pouco a pouco, você torna-se mais parecido com uma sombra. Você perde o seu ser... perde a si mesmo. Você não é mais verdadeiro, real, autêntico. Um cristão já está morto, e a religião está preocupada com um renascimento.

Sim, ela é uma crucificação também: o velho tem de morrer para o novo nascer. Mas, seguindo uma crença, um dogma, uma igreja morta, você nunca permite que o velho morra — e você nunca permite que o novo nasça. Você nunca assume um risco. Você nunca se move no perigo.

Quando Cristo encara o seu próprio ser, ele está movendo-se perigosamente: ele está assumindo um grande risco, ele está indo em direção ao desconhecido.


Osho, em "O Caminho do Amor – Discursos Sobre as Canções de Kabir"

segunda-feira, 2 de julho de 2012

A vida e' uma oportunidade, nao uma obrigacao

A vida e' surpreendentemente bela.

Em alguns momentos dela, voce chega arder de vontade para que algo aconteca, para que algo se esclareca.... e isso nao vem. Nao vem pelo simples fato de que o sinal que esta' emitindo e' de falta, de carencia. Passa algum tempo, passam alguns anos e entao voce supera sua necessidade e se torna capaz de sentir agradecido por tal acontecimento e/ou pessoa. E entao a vida te ouve novamente (o que e' uma constante) e entende sua aceitacao e seu sentimento de "eu tenho o bastante".. da-se uma reviravolta e o que voce nem deseja mais (simplesmente porque se sente pleno, tranquilo) de repente se manifesta em sua realidade porque tem como base a gratidao.
Criar resistencia a qualquer coisa que seja e' manter-se preso ao padrao e/ou a situacao a qual quer mudar. Aceitacao e' o melhor caminho para trabalhar em comunhao com a vida, pois e' atraves dela que voce consegue clareza suficiente para saber qual o proximo passo em pro da mudanca que voce quer realizar.
Essa e' parte da bela dicotomia divina.

A vida e' uma oportunidade, nao uma obrigacao. Oportunidade de auto conhecimento e consequentemente, auto criacao. A gratidao existe apenas pelo fato de estarmos vivos e termos essa oportunidade de escolhermos como queremos viver e quem queremos ser nessa aventura. Faca um favor a si mesmo: esqueca os direitos que supoem serem merecidos. Todo mundo merece o melhor, merece ser feliz, viver em extase; tudo que e' necessario e' se abrir para a vida, numa atitude de humildade completa...
A vida apenas pode se mostrar para voce quando voce deixa de dizer a todo momento que voce ja' sabe o que ela e'.

Esse e' um precioso momento de deliciosa gratidao.